domingo, dezembro 27, 2009

natal...



ruas iluminadas

e

casas decoradas, fascinantes

barulhos de crianças, entre risos de

satisfação na algazarra natural

do abrir presentes,

as mesas fartas

e os cantares são melodiosos

é dia de Natal…



na viela, do fim da rua

da cidade iluminada,

o mar agita-se

e o vento feroz tudo desmorona

está frio e vai chover.

abrigado em metades de papelão

está um homem

sozinho,

um pão nas mãos crespadas

e um copo de café fumegante.

alguém passou

e foi o que lhe deixou…

o homem não sabe que é Natal!




helena maltez



Não queria deixar passar esta época em branco, mesmo já fora de tempo, mas para mim dentro do tempo, o meu desejo é que o natal acorde em nós todos os dias e que se consiga viver em Natal. um abraço meu, quente e doce

helena maltez

domingo, novembro 22, 2009

os teus pés vesgos




entrou na porta de costas

descalço, com os pés vesgos

descia carregando medos,

as escadas suspensas em redes.

com visão lenta petrificava o espaço

e, das vidraças retratavam as sombras

do lado de lá, da porta ao lado.

encontrou o anoitecer sem horas,

velas ardiam pela casa,

como astros em campo nu

a claridade existia dentro do tempo.

passeou a memória,

sem excessos

recordou como se movia o mar

e com os dois pés esquerdos

caminhou sobre cal caída das paredes

sujas de palavras.


de dentro sangrava

o fascínio de saber sonhar.




helena maltez






domingo, setembro 20, 2009

mão no dia




















olho com as mãos o dia

faz-se noite escura.

o tempo é indefinido

nos espaços renovados


sem distâncias a noite infiltra-se

no meio.

os muros tremem

ao ruído das sirenes


são tóxicos os vultos

que caminham sem crescer


tudo é alheio ao sentido da vida


fugiu a sombra

e o ontem adormeceu hoje





helena maltez





segunda-feira, maio 04, 2009

noite e dia!





na noite e dia o tempo circula,
empoeirado de pequenos silêncios,
com gritos prisioneiros, na lucidez feroz
do desprezo imposto, pela humilde nostalgia


na cidade dos pequenos nadas
só um vendedor de jornais
sorri com a escrita
impressa no rosto


a pressão é anseio na metamorfose
do cheiro das paisagens obstinadas


o canto nasce na pausa do dia
esgravata os espaços nos quadrados dos areais,
deixa a neblina sem som.
e provoca o senso, no deslavado remar sem dedos


nas ruas, correm as cabeças de muitos nomes
o génese é infundido na origem dos domínios,
a noite cresce no soluço tumefacto
e irrompe o odor da fadiga .


a ponte tem a noite e o dia
e a faina rola sobre o tempo





helena maltez

sábado, março 21, 2009

primavera!


no ventre os traços tecem horas somadas

árvores crescem no fulcro

e erguem-se sonhos que descem

como purificados entre silêncios de amor



a vida alenta o coração

é a chegada da Primavera

os gestos permanecem preguiçosos.



delineadas abre-se o baú de palavras

e a melodia é poesia, solfeja das cordas da guitarra.

separa-se o rosto do olhar refulgente,

perturbado fica preso, ao ponto ilusório

chega veemente a pausa sem tempo!



a paixão embarca sem medo…

o dia começa hoje

é Primavera!




helena maltez





domingo, março 01, 2009

devaneios




sentei-me na rocha

da falésia junto ao mar.

a manhã era de mitos

na grande solidão

não sabia se o mundo me pertencia.

senti-me inacabada

dentro de um dia tão frágil.

a música de fundo

vinha da minha solidão…

a correr passaram as horas de ninguém.

na noite a claridade era intensa,

vi-me dançar

sobre o brilho de um olhar.

movi o sonho, escutei o mar

nas curvas do caminho.

implacável a imagem,

permanecia no meu espaço

tecida de espuma inóspita.

intacta e indistinta

recolhi ao ímpeto do êxtase




helena maltez




sexta-feira, janeiro 30, 2009

luar de janeiro


a noite transforma-se,

há luar e é janeiro.

só a distância nos separa.

entregamo-nos a esse luar,

toco na minha mão

e, é a tua que sinto em meu corpo.

a madrugada encanta-nos

pela noite dentro,

desenha teu rosto

com um doce e meigo olhar,


embebeda-me a luz

e é o teu respirar que sinto

ofegante, numa entrega de prazer.

o cenário pertence-nos

na pura ilusão do querer

são guarida de anseios.

dançam olhares

em ritmo cadenciado

numa liberdade transfigurada

o sonho flutua

neste nosso luar de janeiro




helena maltez





domingo, janeiro 04, 2009

Mais um ano ...




Mais um ano está cumprido.
De repente, implacavelmente, o tempo
arrancou as suas folhas,
a vertiginosa sucessão dos números.
Despenharam-se os relógios, as clepsidras, as
varas do sol.

Gritei, contorci-me, explodi no ar como
as canas de fogo.
Mas não havia cor.
As sombras, a sombra do mal, a sombra do
medo,
a sombra da nostalgia,
adensaram os contornos da minha vida.

Desejei morrer tantas vezes,
Viajei entre baldios, colhi plantas sem nome,
quebrei os corais do último sonho,
debrucei-me em varandas que davam apenas
para a cidade das trevas.

Bebi todos os vinhos,
tudo o que nascia dos cactos, do absinto, das
juníperas alucinadas,
da cevada dos países frios.

Devorei palavras sem sentido, orações,
rosários de pérolas negras,
liturgias que jamais responderam à extrema
solidão do homem.

Abracei um corpo de inocência perdida e
estremeci,
e esse corpo estremeceu na inquietude da
minha vida desesperada.
Talvez fosse amor esse agitar de asas,
esse brilho de lantejoulas enlouquecidas.
Não sei.

Havia uma praça onde os cães adormeciam,
sem endereço, sem dono,
sem os antigos passeios pelos prados da alegria.
Aí estavas tu, josé,
meu amigo de desumana voz,
a guardar o meu sono, a angústia das suas praias.

Mas não dizias nada.
Eras o único caminhante desses planetas para
onde eu partia,
sempre que Deus me chamava,
com a sua urgência inexplicável.

Penso sempre no seu trono de jóias raras,
sob as árvores frondosas,
e procuro a sua mão sobre a minha fronte,
sobre o meu pensamento de casas puras.

Já não tenho casa.
Fiz do desabrigo um imenso campo de anis e
flores altas.
A minha cama é essa planície onde os
animais se deitam, sem pensar em nada.
Por isso não quero a mentira dos povos, as
estátuas de bronze,
as armas brancas atrás das costas.

Quero um barco de papel, um espelho de
água, um lago.
Mais nada.



José Agostinho Baptista

  o teu sorriso no esplendor de uma suave explosão chega a mim o teu sorriso. aflui com emoção e calor, como sonhos mesclados nos en...